O elevador

O som do elevador cessou com um baque e um estalo seco, em seguida, silêncio absoluto.

A luz piscou uma vez, duas, e apagou. Carlos se viu mergulhado na escuridão, o passado lhe veio à mente imediatamente.

— Não! De novo, não, lamentou.

— Por que você não veio resolver isso mais cedo, Carlos?

Ele respirou fundo, e embora estivesse em um prédio antigo e num elevador mequetrefe, procurou se acalmar. Mas a visão daquele guarda-roupa apertado onde os irmãos o haviam trancado quando criança era mais forte. Ele só conseguia pensar na sensação de ser engolido pelo vazio, o ar ficando pesado e as paredes o sufocando.

— Você está bem, Carlos, murmurou para si mesmo. — É só esperar, que tudo se vai resolver, nada de pânico.

Aos oito anos, numa brincadeira de criança ele se escondeu em um guarda-roupa e seus irmãos o trancaram dentro. As horas (ou talvez minutos) que se seguiram foram sufocantes e traumatizantes. Desde então, a claustrofobia nunca o abandonou de verdade, uma sombra que ele fingia não ver mais.

Cinco minutos no elevador e já estava começando a sentir o suor escorrer pela nuca. — Okay, talvez seja a hora de entrar em pânico.

Ele deu um leve soco na parede metálica. — Socorro?!, a voz saiu um pouco mais aguda do que ele planejava.

Nada. Silêncio. Solidão.

— Ótimo, agora vou morrer preso aqui, e tudo porque sou sedentário e não quis subir as escadas.

Ele riu de si mesmo, porque, bom, a outra opção era começar a chorar. Tinha algo absurdamente ridículo naquela situação, pensou ele.

— Como é que uma pessoa espirituosa, bem resolvida, com bom senso e, ah… totalmente adulta, não consegue lidar com algo assim?, refletiu. — Talvez eu devesse ter feito terapia, murmurou, enquanto começava a imaginar o obituário:

"Homem morre em elevador, revive trauma infantil, deixa um PS4 e contas de luz vencidas como espólio".

Dez minutos

As paredes estavam definitivamente mais próximas agora. O elevador parecia menor a cada segundo. — Não! Carlos, você está imaginando coisas. Contudo imaginar coisas era justamente o problema. Ele já estava de volta àquele guarda-roupa. O cheiro de madeira velha, as roupas que o sufocavam, o desespero crescendo. Ele sentiu o corpo tenso, pronto para reagir… mas a quem? Ou ao quê?

— Eu juro que se eu sair dessa, nunca mais uso elevador. Ele riu outra vez, mas o som de sua risada parecia não se propagar.

Quinze minutos

O elevador deu um tranco, como se zombasse do seu tormento, e então… a luz piscou e voltou. O painel acendeu. Carlos piscou junto com ela, ofuscado pela claridade repentina.

— Só 15 minutos. Mas se alguém perguntar, direi que foram duas horas, no mínimo.

O elevador começou a se mover de novo, lentamente, alheio a aflição de Carlos. Respirando fundo, ele sentiu o alívio se misturar com uma pontada de exaustão. Estava suando, o coração ainda acelerado. Logo o elavador para e a porta se abre suavemente no andar desejado. Ele olhou para o corredor livre à sua frente, hesitou por um momento, mas arriscou-se a sair.

No corredor riu de si mesmo uma última vez, balançando a cabeça.

— Definitivamente… escadas da próxima vez.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Post Author

Thomas Mark

It is a long established fact that a reader will be distracted by the readable content of a page when looking at its layout.

Popular Articles

Top Categories

Tags

O elevador – Portal 42